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E se o Bradesco comprar o HSBC? Qual seria o impacto no setor e no mercado?

Rumores de que a venda do HSBC Brasil estaria cada vez mais próxima crescem no mercado, ainda mais após a confirmação do próprio HSBC que venderá boa parte de suas operações no Brasil, assim como na Turquia. O cenário mais especulado é uma compra pelo Bradesco (BBDC3; BBDC4), que teria oferecido o maior valor pela operação, de até R$ 14 bilhões, conforme noticiou ontem a Bloomberg. Além de suposições sobre um possível comprador, expectativas sobre o impacto da operação no setor não podem ser descartadas. Afinal, em jogo, estão quase R$ 168 bilhões em ativos e um patrimônio líquido de R$ 9,732 bilhões. .Diante dos anseios por respostas, o InfoMoney traçou após conversas com especialistas do setor e leituras de relatórios de bancos e corretoras quais os possíveis cenários e impactos no setor após a compra bilionária. O que se sabe até o momento é que o Goldman Sachs, contratado para assessorar o HSBC, tem até agosto para finalizar a venda, mas o nome do comprador deve sair ainda esse mês. Primeira suposição: considerando que o Bradesco cumpra as expectativas e de fato adquira o HSBC: o que isso representaria para o banco? Pagando entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões pelo HSBC, a compra ajudaria o Bradesco a se aproximar do segundo colocado em ativos, o Itaú Unibanco (ITUB4), já que ele totalizaria R$ 1,18 trilhão em ativos - enquanto o Itaú conta com R$ 1,3 trilhão. O Banco do Brasil (BBAS3) é o maior, com R$ 1,54 bilhão, enquanto o HSBC é apenas o sétimo, segundo dados dos balanços dos bancos. Mas, além da oportunidade de ficar mais próximo do maior concorrente, a aquisição teria especial importância em termos de sinergias que podem trazer ao banco. Para analistas, o Bradesco tem mais sinergias a extrair do processo do que o Santander (SANB11), que é o segundo banco mais provável de comprar o HSBC. A oportunidade que se abre para o Bradesco é de incorporar rapidamente os clientes sem trazer 100% dos custos que o HSBC tem atualmente. CONTINUAR LENDO...

O HSBC tem atualmente 853 agências no Brasil, mas não seria exatamente isso que os bancos estão de olho, segundo o analista Pedro Galdi, da blog Whats Call Research. "O que os bancos querem é comprar a carteira de clientes. Agência nenhum deles precisa". As expectativas sobre o Bradesco aumentaram depois que fontes disseram, além do valor da oferta, que o banco teria mais facilidade de integrar os ativos do HSBC Holdings Plc e de obter aprovação do governo do que um banco estrangeiro, como o Santander, que também fez uma oferta, mas algo entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões. O Itaú, entre os três, que teria feito a menor oferta de R$ 8 bilhões, no piso do mercado. "O Itaú estaria no páreo apenas para pressionar o preço e deixar a concorrência pegar fogo", comentou o analista João Augusto Frotta, da Lopes Filho, citando o valor bem abaixo oferecido pelo banco. Para analistas do Deutsche Bank, o HSBC pode ser avaliado a múltiplos parecidos com os do Santander Brasil ou do BB, a 1,3 vezes o patrimônio líquido, o que equivaleria a algo em torno de R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões - dentro da possível faixa ofertada pelo Bradesco. Ou seja, analistas avaliam o preço como "justo". O banco, no entanto, disse em nota na semana passada, quando começaram a pipocar informações sobre sua oferta, que desconhece essa informação, mas que está "continuamente analisando oportunidades de operação que estejam alinhadas com sua estratégia de crescimento".
Uma segunda hipótese: Santander? A segunda hipótese recai sobre o Santander - que teria apresentado um valor menor do que o Bradesco e encontraria maiores dificuldades para obter aprovação do governo. Contudo, para os analistas, a operação faria sentido pelo fato do banco já ter demonstrado interesse em crescer no Brasil. Em meados de maio, o banco falou que iria fazer uma oferta de compra da unidade do HSBC no País e que teria condições de absorver uma operação desse porte, conforme destacado pelo presidente-executivo do banco espanhol no País, Jesus Zabalza. "Um banco com patrimônio de cerca de US$ 4 bilhões para um nível de capital como o nosso é assumível", disse. Em relatório, analistas do Deutsche Bank destacaram que, embora a unidade do HSBC no Brasil seja relativamente pequena, com apenas 2% de participação no mercado de ativos, a avaliação é de que a aquisição poderia adicionar valor para qualquer outro banco que pretendesse aumentar a sua presença no Brasil, tais como Santander, BTG Pactual, Citibank e talvez Inbursa. A carteira de crédito do HSBC é composta principalmente por empréstimos comerciais (70% do total), enquanto empréstimos a pessoas físicas correspondem a 22% - os 8% são de hipotecas. Para o analista Tito Labarca, que assina o relatório o Deutsche, o valuation potencial dos ativos do banco é de R$ 10 bilhões a R$ 14 bilhões.
E a reação na Bolsa? Para um analista que pediu anonimato uma vez que as informações não passam de suposições, independente de quem for o comprador, as ações do banco que vencer a disputa devem cair no dia do anúncio. Isso porque tanto Bradesco, quanto Itaú e Santander, têm operações rentáveis e estarão desembolsando um valor elevado para uma operação que roda com prejuízo. No ano passado, o HSBC registrou perdas de R$ 549 milhões em suas operações no Brasil. Além disso, é importante é ter conhecimento de qual é o ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) do HSBC, já que o Itaú tem ROE de 24,5%, enquanto que Bradesco está na casa de 21,5%, o que justifica serem negociados atualmente com prêmio em relação ao patrimônio líquido. Isto é, comprar o HSBC a um múltiplo próximo ao valor de patrimônio se justifica dado que o ROE deve ser menor do que o registrado por esses bancos, comentou o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido. Vale lembrar que a venda da subsidiária brasileira faz parte do plano global do HSBC de aumentar sua rentabilidade. Já a visão para os papéis que ficarem de fora, ou seja, que não conseguirem levar o HSBC, a expectativa é de que não sejam afetados em Bolsa. Vale mencionar que, no acumulado do ano, Itaú e Bradesco caem cerca de 3%, enquanto o Santander avança 18%.
E as consequências? Em relatório do UBS que a Reuters teve acesso, analistas apontaram que, se o Bradesco vencer a disputa, poderá ter forte queda do índice de Basileia. Se o Bradesco pagasse a transação com caixa e os órgãos reguladores aprovassem o negócio rapidamente, o chamado capital de nível 1 do Bradesco poderia cair para 10,1%, ante 12,1% em março, escreveram os analistas liderados por Philip Finch em nota a clientes. O índice de Basileia, medida da força financeira a reserva de capital em relação a ativos ponderados pelo risco de um banco, deve ter piso de 11% no Brasil. O capital de nível 1, composto sobretudo pelo patrimônio líquido, é o principal componente de Basileia. Para o Bradesco atingir esse piso teria que ter uma queda de R$ 6,7 bilhões no capital. Se a aprovação demorar mais, no cenário mais provável, o Bradesco poderia acumular lucro, que o ajudaria a cobrir grande parte desse déficit, calculou Finch. Mas, se a compra fosse aprovada no fim do ano, o déficit de capital cairia para R$ 5,4 bilhões. O Bradesco deve pagar R$ 1,6 bilhão em dividendos trimestrais este ano, disseram os analistas. As notícias de venda do HSBC no país iminente vêm após o presidente-executivo do HSBC, Stuart Gulliver, afirmar que Brasil, México, Turquia e Estados Unidos são mercados potenciais para vendas.

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